Você já se imaginou como o mundo atual é interconectado? Você sabe quais artifícios tecnológicos estão por de trás de toda essa infraestrutura? Conheça em mais sobre o tema: Conexão Interoceânica,

Em 29 de julho de 1858, dois navios de guerra a vapor encontraram-se no meio do Oceano Atlântico. Lá, eles conectaram duas extremidades de um cabo de 4.000 quilômetros de comprimento e 1,5 centímetros de largura, ligando pela primeira vez os continentes europeu e norte-americano por telégrafo.

Em seus cabos inaugurais, a Rainha Vitória saudou o “grande trabalho internacional” dos dois países, a culminação de quase duas décadas de esforços, enquanto James Buchanan, então presidente dos Estados Unidos, comemorava o feito em um desfile pelas ruas de Nova York.

A primeira mensagem enviada pelo cabeamento levou mais de 17 horas para ser entregue, a 2 minutos e 5 segundos por carta em código Morse, e o cabo operou por menos de um mês devido a uma variedade de falhas técnicas, mas essa foi sem dúvidas uma revolução global nas comunicações havia começado.

Hoje, a velocidade com que os dados trafegam pela internet certamente mudou — só enquanto você lia essa introduções trilhões de pacotes de dados viajaram do Brasil a outros lugares do mundo e de volta para cá. No entanto, o meio de transporte dos dados permanece o mesmo: o cabeamento interoceânico.

Conexão interoceânica: como são realizadas?

A maioria das pessoas fica surpresa ao saber o quanto a internet ainda é baseada em cabos. Com a mobilidade em alta e o Wi-Fi se tornando regra, os usuários simplesmente não pensam sobre isso e não entendem o funcionamento dessa enorme malha de cabos trabalhando juntos.

Cabos subaquáticos são a força invisível que impulsiona a internet moderna. Eles carregam quase todas as nossas comunicações e ainda — em um mundo de redes sem fio e smartphones — mal temos consciência de que eles existem.

Em 1956, o TAT-1, o primeiro cabo telefônico subaquático do mundo, foi instalado e, em 1988, o TAT-8 já era capaz de transmitir 280 megabytes por segundo em fibra óptica, que usa luz para transmitir dados em velocidades altas.

Em 2018, o cabo Marea, o cabo de maior capacidade de transmissão do mundo, começou a operar entre Bilbao, na Espanha, e o estado americano da Virgínia, com velocidades de até 160 terabits por segundo — para se ter uma ideia, o Marea é capaz de transmitir 71 milhões de streaming de vídeo em alta definição simultaneamente.

Mas o Marea não está sozinho. Hoje, existem cerca de 380 cabos subaquáticos em operação em todo o mundo, abrangendo uma extensão de mais de 1,2 milhão de quilômetros. Vários desses cabos foram financiados pelas grandes da tecnologia, como Facebook, Google, Microsoft e Amazon.

Como um cabo interoceânico é colocado?

A instalação de um cabo é um processo de anos que custa milhões de dólares.  O processo começa examinando cartas navais para traçar a melhor rota. Quanto mais fundo os cabos são instalados, mais seguros eles ficam. No entanto, eles devem ser colocados em uma parte do fundo do mar relativamente plana e fora do alcance de vulcões e outras intempéries naturais que possam danificá-lo.

Perto da costa, é preciso um pouco mais de cuidado. Como nesse local a água é mais rasa e o terreno pedregoso, a blindagem do cabo deve ser reforçada para que ele chegue à estação de pouso que o conecta ao backbone de internet do país.

Os cabos são como uma mangueira de jardim, no entanto muito mais grossos, dentro dos quais há tubos muito pequenos que carregam pares e pares de fios de fibra óptica. Essa mangueira é envolta em cobre, que conduz a corrente contínua que alimenta o cabo e seus repetidores, às vezes até 10.000 volts.

As fibras são envoltas em uretano e envoltas em cobre e novamente envoltas em uretano — isso é necessário especialmente para o cabeamento próximo da costa, que é raso e possui muitas pedras.

Os cabos em áreas menos hospitaleiras podem ser muito mais grossos do que mangueiras de jardim, envoltos em plástico extra, revestimento de armadura de kevlar e aço inoxidável para garantir que não sejam quebrados. Dependendo da costa, as empresas de cabo também podem ter que construir valas de concreto no mar, para dobrar o cabo e protegê-lo de bater contra as rochas.

Antes de os navios de instalação de cabos saírem, eles enviam outro navio especializado que mapeia o fundo do mar na área. Esses fazem o mapeamento da rota do cabo buscando evitar áreas onde há muitas correntes submarinas, áreas vulcânicas e evitar muitas mudanças de elevação no fundo do mar.

Os cabos são lançados por enormes navios de lançamento, que viagem o oceano por dias para distribuir o equipamento. Como é de se imaginar, o cabeamento é gigante.

O Marea, por exemplo, possui 6.600 quilômetros e pesa mais de 4,6 milhões de quilogramas, ou o equivalente a 34 baleias azuis, de acordo com a Microsoft, que co-financiou o projeto com o Facebook. Foram mais de dois anos para que a instalação fosse concluída.

Espionagem de dados e a iniciativa brasileira

Como foi o país pioneiro na instalação de cabos interoceânicos lá no século 19, os EUA possuem controle sobre as principais linhas de dados do mundo. Grande parte delas passa por suas fronteiras ou cruza as águas territoriais do país, o que deu à Casa Branca grande poder de espionagem.

Com os escândalos envolvendo os documentos roubados pelo ex-analista da NSA Edward Snowden estouraram, muito se discutiu sobre a hegemonia estadunidense sobre as informações globais, visto que ficou evidente o envolvimento dos EUA em espionagem eletrônica.

Como resultado, alguns países passaram a reconsiderar a infraestrutura da própria internet. O Brasil, por exemplo, lançou um projeto para construir um cabo submarino de comunicações para Portugal que não só contorna totalmente os Estados Unidos, mas também exclui especificamente as empresas americanas do envolvimento.

O EllaLink, como foi nomeado o cabo brasileiro, tem previsão de inauguração para dezembro de 2020, com 9.400 quilômetros de extensão. O cabo sairá de Santos (SP), com parada em Fortaleza (CE) até cruzar o Atlântico e chegar em Sines, no sul de Portugal.

Pode parecer contraditório que grande parte das nossas conexões sem fio à internet sejam dependentes de cabos, no entanto, essa tecnologia antiga é sem dúvidas a forma mais rápida de enviar informações entre continentes.

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