Artigo publicado no Canaltech: http://bit.ly/Xg08yc
Os dispositivos móveis têm evoluído constantemente desde o surgimento, há mais de duas décadas, da telefonia celular. O conceito sempre foi o acesso à informação a partir de qualquer lugar ou, pelo menos, onde houvesse cobertura da rede. Embora isto tenha sido uma revolução em si mesma – com acesso a voz, e-mail, e outros serviços tradicionalmente restritos ao posto de trabalho -, foi uma outra tecnologia que permitiu o surgimento da nova geração de serviços para mobilidade, que hoje associamos mais fortemente aos smartphones. Estamos falando do Global Positioning System (GPS).
O GPS não precisa da rede celular para funcionar, nem de um aplicativo específico. Mas, sem ambos, a informação que ele fornece (latitude e longitude) não tem uma aplicação prática para o usuário. É o conjunto da informação de localização com a capacidade de integrar informações de navegação, redes sociais e outras que permite a implementação de soluções inovadoras, como foi anteriormente com o FourSquare, o Waze e outros serviços que acrescentam valor muito além do que teríamos acesso estando sentados em nossas mesas, com um laptop ou desktop. Essas aplicações são as primeiras soluções “nativas” do paradigma da mobilidade. Ao contrário do e-mail ou do calendário, que passam do desktop para o telefone e coexistem em ambos, essas aplicações simplesmente não fazem sentido em outro dispositivo que não seja o smartphone ou tablet.
Embora ofereça muitas vantagens, o GPS tem uma grande limitação, que é a ausência de cobertura em lugares fechados. Isso ocorre porque o cálculo da posição depende da recepção de um sinal de vários satélites. A utilização dos serviços de localização não será possível enquanto o usuário não se encontre na rua ou em lugares abertos. Evidentemente, esse cenário é ruim, pois a maioria das pessoas passa grande parte de suas vidas embaixo de um céu de concreto ou metal, mesmo sem ser em suas casas, ou o local de trabalho. Pior. Quase todas as transações comerciais que uma pessoa faz vão acontecer em ambientes sem cobertura do serviço de posicionamento seja, por exemplo, no supermercado, shopping ou restaurante, entre outros.
Existe, então, um universo de possibilidades não exploradas por causa da falta de um serviço que poderíamos chamar de Indoor Positioning System (IPS). Algumas tentativas têm sido implementadas como, por exemplo, mapeamento da infraestrutura de Wifi ou de rede celular, associando cada antena a uma localização especifica. Mas, a precisão desses modelos é baixa e permite apenas um conjunto limitado de aplicações, com pouco apelo para o usuário final.
Hoje em dia, estamos presenciando o surgimento de uma tecnologia que promete fornecer esse serviço, baseada num novo tipo de dispositivo conhecido como Beacon. Essa tecnologia é o Bluetooth Low Energy (BLE), ou Bluetooth de Baixa Energia. Traçando um comparativo ao caso do GPS, os satélites seriam o paralelo do Beacon. Ambos emitem um sinal de forma periódica, o qual os identifica de forma única. Utilizando esses sinais, um receptor qualquer como, por exemplo, um smartphone, pode calcular a posição atual em um momento determinado.
Essa analogia tem algumas imprecisões, claro. O Beacon tem um alcance muito menor com seu sinal, é o fato de você receber a mensagem já indicará que você se encontra próximo ao dispositivo, dentro de um raio de 10m a 50m. Outra diferença importante: o GPS é uma rede única, sendo que a do Beacon, por ser “indoor”, pertence e é controlada pelo administrador do shopping, supermercado, hospital ou salão de eventos no qual se encontra, sendo possível achar diversas redes independentes.
Mas, a melhor analogia vem pelo lado das aplicações. O Beacon permitirá uma nova geração de serviços associados à mobilidade, com efeito equivalente ou maior do que o GPS foi para as aplicações nos últimos anos. E esses serviços vão se encontrar disponíveis nos momentos em que o usuário estiver interagindo economicamente com o seu entorno. Isto quer dizer que a monetização desses serviços vai ser extremamente mais simples e direta do que as dos seus pares “outdoor”.
A navegação dentro dos recintos fechados é a derivada mais evidente, da mesma forma que o foi com o GPS. Localizar uma loja ou produto específico e navegar pela rota mais curta até esse lugar é a primeira ideia que vem à mente ao entender o funcionamento dessa tecnologia. E, sem dúvida, elas vão se converter em padrão de mercado, sendo daqui a um par de anos uma necessidade básica do cliente no varejo em geral.
Mas são as novas aplicações, as “nativas” do mundo do IPS, que guardam a maior promessa de melhorar a experiência dos usuários e o lucro dos varejistas. Aí se encontra o verdadeiro potencial para inovação. E mesmo sem ter claridade absoluta de quais serão e como irão nos afetar, uma coisa é certa: o mundo daqui a poucos anos será invadido pelos Beacons. Eles serão tão naturais e comuns para nós como são atualmente os satélites do GPS, que permitem tirar seu carro do trânsito.
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